sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ceará tem maior número de pessoas com esclerose múltipla do Nordeste


Anos de diagnóstico errado, tristeza e apreensão em não saber o que tinha de "errado" marcaram a vida de Tallyta Érica Barbosa da Silva, 26. A cearense do município de Jaguaribara chegou a ficar 24 horas sem conseguir andar e enxergar com clareza. Os primeiros sintomas preocupantes foram ignorados pelos médicos da cidade, que consideraram o caso como uma "garganta inflamada". À época com 17 anos, ela não sabia que se tratava de lesões causadas pela esclerose múltipla (EM).

Após ter se mudado para a Região Metropolitana de Fortaleza em 2010 por conta da doença, Tallyta é uma das 515 pessoas em tratamento no Ceará, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O número é o maior entre os estados do Nordeste. "Coisa de interior, né? Esses diagnósticos errados. Eu não fiquei satisfeita e vim para Fortaleza sozinha tentar descobrir. Fui a uma clínica popular e tive sorte de encontrar um bom médico. Na minha primeira ressonância já deu lesões desmielinizantes (tipo de lesão da EM)", relata.

Alívio

Com a descoberta da doença autoimune e crônica, Tallyta não se abalou. Ao contrário, considerou um "alívio". "Para mim, a maior libertação foi ter o diagnóstico. Quando eu descobri a doença, eu pensei: 'Poxa! Finalmente, eu sei o que eu tenho e, finalmente, acreditam em mim'. Ninguém me entendia. Achavam que eu estava inventando", desabafa. Ela relata que já chegou a ser diagnosticada com depressão por um médico de sua cidade natal, no interior do Ceará.

Hoje, Tallyta, que já passou três anos sem escrever devido a tremores na mão, conta que "quase não tem sequelas" e está livre dos surtos da EM. Ela se trata há nove anos no Centro de Tratamento de EM do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). "Hoje, eu posso dizer que tenho praticamente zero sintomas. Apenas a minha memória que falha e a fadiga que me incomoda", pondera a dona de casa, que mora com o marido em Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza.

Segundo Carina Spedo, neurocientista e neuropsicóloga, é possível ter êxito no tratamento e viver uma vida saudável assim como Tallyta. Entretanto, é preciso ficar atento a sintomas como disfunções motoras, perda de equilíbrio, sensibilidade ocular, perda de memória e fadiga intensa. "É uma doença que não tem causa definida, é uma mistura de fatores genéticos e ambientais. Quanto antes identificar, você começa o tratamento e consegue perceber novos surtos e novas lesões para tratar", afirma.

Margarida Moróró, presidente da Associação dos Amigos e Portadores de Esclerose Múltipla do Ceará (Aapemce), também vive com a doença e é categórica: "É uma doença silenciosa e fácil de confundir".